sexta-feira, 27 de maio de 2016

Cultura do Estupro



E quando eu estava lá, sem saber por onde começar com esse blog, me deparo com uma das notícias mais aterrorizantes dessa semana: garota da periferia do Rio foi estuprada por 30 homens e, não bastasse o ato, ainda foi exposta na internet através de vídeo por seus estupradores.
A repercussão do caso está fervendo na internet, mas em grandes mídias televisivas, mal se ouviu sobre. Nós precisamos conversar sobre a cultura do estupro.


A cultura do estupro, em si, é a normalização do estupro; o conformismo coletivo que não vê esse tipo de abuso como absurdo ou incomum, e que as pessoas perpetuam de forma até inocente quando culpabilizam a vítima ou comentam sobre “como esses lugares são perigosos mesmo”.
A cada 11 minutos ocorre o estupro de uma mulher no Brasil, e o número de vítimas masculinas é tão isolado que aparentemente nem entra nas estatísticas -embora esses casos aconteçam majoritariamente nas prisões-.
A próxima frase é uma verdade impactante e pesada. Os números sugerem que estupro é comum no nosso país. O que é problemático de todas as formas possíveis, porque não só existe o pensamento intrínseco na sociedade de que o homem tem poder sobre a mulher, como também ensina as mulheres a aceitarem a posição de vítima, inconscientemente.


São frases comuns de mãe que perpetuam a cultura do estupro. Está no “Senta que nem mocinha senão sua calcinha aparece!” pra menininhas de 5, 6 anos. Está no “Você não deve usar esse decote num local onde tem homens adultos, eles olham.” Pra meninas de 12 que começam a desenvolver brotos de peito. Está no “Troca essa saia curta senão vão achar que você é uma vagabunda” pra filha adolescente. Está nos “Evite beber, porque senão os homens vão só querer te comer mesmo”, “Não passa por lá sozinha à noite, porque é fácil pra um homem te puxar pro mato se ele quiser” ditos pra mulheres de qualquer idade.


A cultura do estupro está na forma como conversamos casualmente sobre isso no nosso café da manhã, mesmo sendo um assunto que pode ter destruído a vida de outra pessoa.
- Você viu a notícia da menina que foi estuprada dentro da igreja? Passou ontem no jornal.
- Vi... Que tragédia, né? Esse mundo tá perigoso mesmo...
E fim da história, afinal, casos assim acontecem o tempo todo e não há nada a fazer além de lavarmos nossas mãos. 


A cultura do estupro está na normalização do cárcere da mulher, enquanto homens transitam livremente por aí. Está na misoginia de achar que existem mulheres que merecem mais respeito do que as outras. Está na relativização da situação; “Ah, ela estava bêbada”, “Por que ela estava andando sozinha?”, “Mas com essa roupa curta né, ela pediu”, “Era um baile funk, queria o quê?”, “Nossa, ela usa drogas, então se sujeitou a isso, bem feito.”.


A cultura do estupro está em achar que existem estupros válidos e estupros inválidos. Está em conscientizar meninas sobre o perigo que são os homens, mas não educar os meninos pra que não sejam homens perigosos.
A cultura do estupro está em não achar essas notícias absurdas, a menos que seja com você ou com alguém que você ama.

Estupro não é normal. Estupro é um absurdo e nós não podemos ficar calados.

Um comentário:

  1. É uma lamentável verdade. E educar os meninos para respeitar as meninas... cadê? E estupro é uma violência física e psicológica - no qual eu desejo que a jovem consiga se recuperar. As cicatrizes ficarão, mas que cada vez mais a sociedade se una para diminuir assédio e estupro - estamos em 2016, tá na hora de evoluir.

    Beijos e que venham mais posts <3

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